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domingo, 21 de novembro de 2010

Já não sorria com tanta naturalidade ou espontaneidade, como sorria anos arás. Desvinculou-se, um pouco na verdade, dos mais crédulos da ilusão, do irreal. Carrega hoje versos reais e tristes de sofridos poetas que mal podemos definir, de tão bons no que fazem e no efeito que já causaram.

Queimou aquela ridícula esperança e tirou uma parte do brilho de meus olhos que, sempre alertas, esperavam algo de novo, algo surpreendente. Mas aí, eram os mesmo ares, mesmos livros,mesmos dias, mesmas idéias. Mesmas estações, nada de sazonal. O espírito mantinha-se livre, mas para quê essa liberdade? Se não podia usufruir dela? Iria se manter em um cotidiano estagnado, igual e sem nenhum receio lúdico de mudança.

Trago tanta covardia em minhas entranhas que nem a primeira pessoa costumo usar em meus textos. Não uso subjetividade, ou contexto impessoal. É covardia mesmo, sabe.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre a mesa um copo d água com um ramo de margarida dentro e da janela, lamúrias voltavam e se fixavam no papel. Na mesinha, em madeira, a moça, em postura de donzela, debulhava-se em histórias, transformando tudo o que via e tecendo o que sentia em palavras. Cada uma com um cheiro, uma cor, uma intensidade. Ah, seus humores, esses tinham personalidade. Caminhavam de acordo com tempo, o céu e a lua. E quando ventava, já notava que algo de importante ia acontecer, como mãe de Ana Terra já dizia. Como poemas de Mário Quintana, a moça não tinha rumo, futuro. Desejava o aqui e o agora, pensava no momento, sem meias palavras. O moço, que sempre estava ao seu lado, iluminava tudo, com apenas um sorriso. Um olhar, ou um abraço substituía qualquer palavra que, na maioria das vezes, saía com timidez, em baixo tom Tinha um olhar baixo, esse moço. Tocava seus acordes com tanta precisão, sabia lidar mais com instrumentos do que com gente de pele e osso. Distante, esse moço, distante.