.

.
.

domingo, 29 de agosto de 2010


Sabe, vesti meu terninho de linho, saí por aí com rosas nos olhos, forças nas mãos e esperanças mundanas. Já tive sonhos imundos, puros e macios como nuvens, doces como pólen. Estranhei-me com diversas amarguras em meu coração, não sendo do meu feitio sentir tal, aí então pensei que as pessoas não mereciam crédito, não mereciam ser ouvidas, reconhecidas por utópicos, poetas loucos, sábios. Em mudanças repentinas, minha opinião discorre sobre os mais pesados governos, idéias, e o brilho de esperança agonizante nos olhos engrandecidos de crianças perdidas em pobreza, lamúria, magreza e fome. E há aqueles que ainda, em pura ignorância, reclamam de pesos, medidas, costuras, comidas, do dia-a-dia.Sendo que ainda , há o ébrio, o febril e o assombrado.

Cada vez mais, estamos acostumados com nossos podres e preguiçosos costumes que acompanham o nosso cotidiano, nosso olhar. Isso é o que nos torna mais hipócritas e torna vergonhosa nossa opinião sobre sistemas sociais, populações e outros hábitos, nos torna mais preconceituosos, mais do que já somos. Estamos mais presos do que nunca em nossas convicções e esquecendo de relações humanas, de prazeres, de leituras de outros seres, de diferentes seres.

Mouni Dadoun.
*Quadro dadaísta: François Picabia

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sou a dança eternizada, os pés doídos e brilhantes.
Palavras escritas em poesias, prosas e notícias.
Posso ser uma letra de Chico, uma composição boêmia.
Sou qualquer grito revoltante, qualquer gargalhada livre.

Sou qualquer terra, qualquer lugar,
qualquer pessoa, qualquer frase.

Qualquer passo leve, ou luz do luar.
Posso ser qualquer momento, qualquer hora.
Posso ser o todo, de todas as formas.
Enceno na vida de palco, na vida real.

Mouni Dadoun

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ontem vi o absurdo bater na porta da cidade.
Vi o chão derretido em sujeira,engolindo árvores,
cuspindo gases e soltando marginais.
Vi a cidade acesa em lamúrias, chamas e lágrimas.

Vi a morte sendo estuprada, e a mãe de braços vazios.
Vi homens com seus podres, e luxuosos cidadãos com seus vícios.
Ontem vi crianças magras caminhando sobre um meio fio podre,
Comendo o invisível com seus grandes olhos, sofrendo em silêncio.

Ontem vi assassinatos cometidos por governantes,
por fome, miséria e doença.Vi a cólera sobre o mundo.
Vi Rimbaud, ainda presente, profetizando e se lamentando por estar certo.
Ontem vi brigas de bichos-homens por restos de comida em lixeiras e sarjetas.

Ontem vi seres afogados no petróleo e o mundo caído nesse futuro prestígio.
Por consequência, vi mortes, que nada tinham a ver com a pretenção e ambição dos grandes.
Vi lágrimas caídas em corpos guerreados, vi o mar mais negro do que nunca .
Vi tudo claramente em telas,mares, olhos, ruas e restos.

Mouni Dadoun.