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sábado, 26 de junho de 2010

Não só uma.

Aquilo a que me entrego nasce a partir da dor, suor, ardor, louvor. Do amor ao passo, à letra, ao homem, ao que se chama de “gente”. Do amargo, ácido ou até mesmo, por incrível que pareça, do doce. Da admiração por acordes, notas, cordas, o instrumental. Há aqueles que passam para a palavra escrita, para músicas, artes plásticas, todos os ideais, sonhos, amarguras, ironias, malditas ou benditas sejam essas. Se isso acaba, o corpo não age, a mente não se cabe e a vida se acinzenta, se sufoca. Qualquer coisa, impulso de vida, letra de canção, música ou luar. Algum estímulo, quebra do cotiadiano, ou por contra, a rotina.Aventura. Vício.Qualquer coisa para o vital continuar.

Sonhos perdidos, atingidos. Projetos em crises, absolvições bandidas, amores platônicos, risos e desesperos. Sem isso não há verso, poema, pintura, cultura. Não há língua, mescla de textos ou arte mista. Do branco com preto, do mestiço, do mal-criado.
Diversidades com seus amores mal resolvidos. Daqueles românticos, carnais, espirituais. Espelham-se em tambores, flautas, ritmos, valsas, coreografias.De todos os tipos, cores , jeitos , sabores e poderes de sedução.
Nao se traia, não se canse, nem se maltrate.Desande o quanto quiser, mas não , não pare nunca.

Mouni Dadoun.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A religião do mundo.



Eles vivem por fotos, imagens e retratos, espelhos.
Pintam-se, colorem, preenchem vazios,
causados por dor, ardor e “desvalor”.
Afogam seus demônios em bebidas rústicas

Pedem para ser os primeiros, ou últimos do planeta.
Desse mundo insano que manipula a vida de qualquer um.
Não sabem o quanto de ópio devem usar, nem quantos cigarros fumar.
Sabem apenas que devem usar, abusar.

Devem milhões à milhares; dívidas de atitude.
De dinheiro, de flores.
Não sabem quantos carnavais nem quantos funerais
manifestam-se em seus interiores.

Não sabem o porquê, nem pra quê. Sabem que devem.
Devem pagar, sorrir, fazer e agir.
Essa é a farsa humana de que todos estão vestidos.
Fazem do amargo seu sabor e o escondem com belas palavras.

Mouni Dadoun.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Copa , que copa?

Em teu seio, ó liberdade.


Semáforos não funcionarão mais, o trânsito que já era caótico, muito menos. O Brasil de câmera lenta passará a “stop”. As mulheres deixarão seus namorados, maridos ou afins ( nunca se sabe ) já que serão traídas por ela!A bendita Copa. As crianças que nascerem durante o período da aprovação da pátria, terão seu armário em tons de verde e amarelo. Até a famosa novela das nove , passada no nosso canal globalizado , será interrompida. Sim meus caros o inferno vestirá seu uniforme e entrará em campo.

O mundo que já estava pra lá de Marraquesh , honras a Caetano , irá para a África do Sul. O Brasil parará o PAC e concentrará suas forças para nosso querido time anão. Copa, copas? Venhamos e convenhamos. Se o país já não andava, agora vai empacar. Podem chamar juazeiros, nordestinos, Senhor do Bonfim. Fantástico. Ah o Fantástico. Apresentará as garotas da copa, em sua maioria loiras que fazem embaixadinhas, se é que me entendem, depois publicará alguma Maria da vida de algum buraco do Pantanal que sabe da copa, mas sequer possui luz em casa.

Nada funcionará, que não seja em prol dos nossos queridinhos bonecos em forma de jogadores, camisas de dez à mil reais, bandeirinhas das verdes matas e do brilhante sol à venda em feiras e espaços glamurosos de comércio. Não é preciso profetizar para ver as vitrines lotadas e o povo à procura de bumbum e cerveja gelada. A população usará toda sua pátria resguardada há anos para cantar o hino e emanar energias para o Brasil vencer. Sim em alguma coisa ele tem que vencer . Então como o futebol é uma das esperanças para os Josués, já que não conheceram o caminho letrado, que se faça a profecia.

Sim.Plantões da Globo ocorrerão a todo momento para mostras contusões, confusões e arbitrariedades. E nossas Marias estão lá perdendo filhos inocentes com PMs, lavando roupas a quilo e derramando lágrimas sobre pratos vazios, sobre as bolsas famílias esburacadas. Todos se reunindo ao ar livre e em ritmo de copa, para fazer as famosas trocas de figurinha. Tantos empregos temporários, tantos policiais temporários, pátria temporária. O país fica digno de ter uma nacionalidade quando percebe que a libertadores, o campeonato brasileiro e como se não bastasse o campeonato sul americano não são mais suficientes para suprir seus desejos mais que sexuais da bola.


Onde estão as músicas ricas e indecifráveis de tempos atrás? A cultura massificou-se. Onde estão os livros realistas e modernistas, de cunho social? Tudo ficou de uma cor só. Uniformizado. Remete-se a algo?
Quem sabe, o beijo no símbolo brasileiro na camisa suada, crianças já vestidas à caráter e notícias e mais notícias da copa, nos traga um pouco de conscientização?. Por que essa pátria não é usada de oura forma? Dunga além de se sentir mal humorado, sente-se mais no dever de não decepcionar o Brasil que o próprio governo sente. Se sentir. Não deixemos esse peso todo para o pequeno. E não sejamos xenófobos também. Temos é mais que aprender com os concorrentes, não só na FIFA, mas no PIB, IDH e outras siglas formais, que só burocratizam o relacionamento do brasileiro com o Brasil, cada vez mais, infelizmente banalizado.

Mouni Dadoun.

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Caderninhos, panfletos, folhetos. Trazem como conteúdo poesia, poemas versos e curtas prosas. Muitos dos que criam estas obras são autores anônimos, desconhecidos ou que desejam reconhecimento e valorização de seu trabalho. Caminham por bares, ruas, restaurantes, sinais. Escritores que procuram apenas alguém que sinta algo ao ler um verso feito, um soneto.

Os chamados poetas marginais ,desejam difundir seus trabalhos e conquistar leitores, conseguir, seja um elogio, uma contribuição financeira, um lanche. Muitos publicam seus escritos e distribuem estes por diversos estabelecimentos. Há todo tipo de público, do que amassa o papel como umas embalagens de bala, dos que lêem e agradecem, pela mostra, devolvendo-a e os que as adquirem pelo trabalho valorizando-o e até contribuindo com qualquer valor, mesmo que simbólico.

As poesias marginais possuem uma forma de divulgação livre, mas ao mesmo tempo limitada pelo fato das publicações serem feitas pelos próprios poetas. São de temas livres e fogem do que se é chamado de “sistema literário”. Abrangem temas que vão do cotidiano, que enaltecem as emoções do autor com uma linguagem simples e estética variável ao poema de cunho sóciopolítico e questões mais engajadas.O que é lembrado nos anos 70, época em que o Brasil vivia um sistema político ditatorial, e época em que acontecia o afloramento da “Poesia Marginal”.Esta deu início ao tropicalismo , à movimentos de libertação política e social e infelizmente, formalizou a censura.

Hoje essa forma de expressão continua sendo divulgada através do boca a boca, da distribuição de trabalhos por ruas, praças e bares; aos boêmios, mulheres, homens. A todo tipo de público. É uma forma de democratização literária, dando espaço a vários e novos artistas sem o monopólio e a padronização de escritores e as barreiras do mercado. Essa variação enriquece o leitor culturalmente além de abrir caminhos para a homogeneização cultural.

Ana Cristina César (1952-1983), carioca foi um ícone da Poesia Marginal. Escritora tradutora, a poetisa foi fonte de inspiração para novos poetas. Viajando pelo mundo ela publicou suas poesias de forma independente.

Voando com o pássaro ( Ana Cristina César)

Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor
[ (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os
[ cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.

Mouni Dadoun

Quero ficar na minha, no meu, no eu.
Não sóbria, nem racional.
Entrar em transe, soberana em meu inconsciente.
Degustar sabores da mente.

Após o banho de ideologia, secar ao sol.
E perceber que era apenas uma ilusão,
Alucinação ou coisa e tal
Ir aos céus, visitar deuses.

Apreciar a palavra escrita.
Poetizada e colorida.
Voltar ao normal, levar o choque.
Cinco minutos pra pensar.

Auto crítica desconhecida
Cavar caminhos em mente
Tentar achar o real do imaginário
E voltar aos labirintos do consciente.
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Mouni Dadoun.

terça-feira, 1 de junho de 2010


Em honra aos mortos e prisioneiros da ilha da ilusão, perco-me também agindo e voando por mundos e fundos em um naufrágio ocorrido. Os que preferem a liberdade da ilha do real, deixo-lhes a escolha e, inchados de sabedoria optarão pela mais nua e estúpida verdade. Ou aqueles que preferem viver caindo de sonho em sonho sem linhas, métrica, dimensão ou padrão, desses que a realidade impõe.

Os livres da ilha do real são os economistas brancos que de tão pálidos quanto a crises pedem tranqüilidade a sociedade ,são políticos se engalfinhando por poder, são os guias religiosos que optam pelo brutal e ridículo preceito de salvação. Os ilhados prisioneiros da ilusão são os inventores da água nova ,brotando. São mulheres que insistem em criar seus filhos, são crianças que insistem em sorrir.Aqueles que possuem a fineza e firmeza de desinventar a tristeza e plantar a flor ,que ainda não foi copiada, no asfalto.

Aqueles que ainda tentam plantar a música nas terras inférteis, marcar a letra no papel e estancar o sangue da moça ferida, ganham a cidadania dos iludidos. Os que adquirem amor próprio suficiente para se aprisionar no mundo da ilusão para não serem dominados e pseudo livres no realismo, em mínimo detalhes. Apegam-se a plantas e animais .Não acreditam mais nas pessoas , muito menos nas crianças com seus comentários, ao mesmo tempo , maldosos e inocentes.O que parece é isso mesmo.Banalizaram o ser – humano e o amor próprio não apenas do ser , mas da espécie humana.

Mouni Dadoun.