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quarta-feira, 9 de junho de 2010


Caderninhos, panfletos, folhetos. Trazem como conteúdo poesia, poemas versos e curtas prosas. Muitos dos que criam estas obras são autores anônimos, desconhecidos ou que desejam reconhecimento e valorização de seu trabalho. Caminham por bares, ruas, restaurantes, sinais. Escritores que procuram apenas alguém que sinta algo ao ler um verso feito, um soneto.

Os chamados poetas marginais ,desejam difundir seus trabalhos e conquistar leitores, conseguir, seja um elogio, uma contribuição financeira, um lanche. Muitos publicam seus escritos e distribuem estes por diversos estabelecimentos. Há todo tipo de público, do que amassa o papel como umas embalagens de bala, dos que lêem e agradecem, pela mostra, devolvendo-a e os que as adquirem pelo trabalho valorizando-o e até contribuindo com qualquer valor, mesmo que simbólico.

As poesias marginais possuem uma forma de divulgação livre, mas ao mesmo tempo limitada pelo fato das publicações serem feitas pelos próprios poetas. São de temas livres e fogem do que se é chamado de “sistema literário”. Abrangem temas que vão do cotidiano, que enaltecem as emoções do autor com uma linguagem simples e estética variável ao poema de cunho sóciopolítico e questões mais engajadas.O que é lembrado nos anos 70, época em que o Brasil vivia um sistema político ditatorial, e época em que acontecia o afloramento da “Poesia Marginal”.Esta deu início ao tropicalismo , à movimentos de libertação política e social e infelizmente, formalizou a censura.

Hoje essa forma de expressão continua sendo divulgada através do boca a boca, da distribuição de trabalhos por ruas, praças e bares; aos boêmios, mulheres, homens. A todo tipo de público. É uma forma de democratização literária, dando espaço a vários e novos artistas sem o monopólio e a padronização de escritores e as barreiras do mercado. Essa variação enriquece o leitor culturalmente além de abrir caminhos para a homogeneização cultural.

Ana Cristina César (1952-1983), carioca foi um ícone da Poesia Marginal. Escritora tradutora, a poetisa foi fonte de inspiração para novos poetas. Viajando pelo mundo ela publicou suas poesias de forma independente.

Voando com o pássaro ( Ana Cristina César)

Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor
[ (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os
[ cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.

Mouni Dadoun

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