.

.
.

sábado, 4 de dezembro de 2010

No balbuciar do homem, a palavra muitas vezes é silenciada. Por aqueles indignos de diploma e preenchidos por ambição e egocentrismo. Silenciada por aqueles medrosos , que sentem – se ameaçados por citações , nomes, pelo poder do palavreado.


Mouni Dadoun.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A gente vive é de lembrança mesmo... Quando não tem com quem ou com o que se apegar. É essa misteriosa necessidade do bicho homem ter de se apegar. Misterioso porque podem falar até, mas precisamos de algo, de alguém, de qualquer coisa que nos impulsione a viver. Algo que sejamos apaixonados e que nos faça acreditar que aquilo vai dar certo que vai virar um propósito.

Nos tempos em que a memória ainda não era absurda, as emoções se distribuíam por nossas entranhas, por olhos de seres humanos duvidosos e por inocentes idades. Quem me dera ter o poder de me expressar de maneira simples, sem ladainha, mas nunca fugaz. Ter a certeza sobre mim, sobre o que sou ou o que penso. Mas a vida tem dessas cosias mesmo; traições, dramas, sabores e aromas de todos os estilos e jeitos, senão, não é vida.Então , qualquer coisa que esteja borbulhando a altas temperaturas e que seja de fato, especial, vital, serve.

domingo, 21 de novembro de 2010

Já não sorria com tanta naturalidade ou espontaneidade, como sorria anos arás. Desvinculou-se, um pouco na verdade, dos mais crédulos da ilusão, do irreal. Carrega hoje versos reais e tristes de sofridos poetas que mal podemos definir, de tão bons no que fazem e no efeito que já causaram.

Queimou aquela ridícula esperança e tirou uma parte do brilho de meus olhos que, sempre alertas, esperavam algo de novo, algo surpreendente. Mas aí, eram os mesmo ares, mesmos livros,mesmos dias, mesmas idéias. Mesmas estações, nada de sazonal. O espírito mantinha-se livre, mas para quê essa liberdade? Se não podia usufruir dela? Iria se manter em um cotidiano estagnado, igual e sem nenhum receio lúdico de mudança.

Trago tanta covardia em minhas entranhas que nem a primeira pessoa costumo usar em meus textos. Não uso subjetividade, ou contexto impessoal. É covardia mesmo, sabe.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre a mesa um copo d água com um ramo de margarida dentro e da janela, lamúrias voltavam e se fixavam no papel. Na mesinha, em madeira, a moça, em postura de donzela, debulhava-se em histórias, transformando tudo o que via e tecendo o que sentia em palavras. Cada uma com um cheiro, uma cor, uma intensidade. Ah, seus humores, esses tinham personalidade. Caminhavam de acordo com tempo, o céu e a lua. E quando ventava, já notava que algo de importante ia acontecer, como mãe de Ana Terra já dizia. Como poemas de Mário Quintana, a moça não tinha rumo, futuro. Desejava o aqui e o agora, pensava no momento, sem meias palavras. O moço, que sempre estava ao seu lado, iluminava tudo, com apenas um sorriso. Um olhar, ou um abraço substituía qualquer palavra que, na maioria das vezes, saía com timidez, em baixo tom Tinha um olhar baixo, esse moço. Tocava seus acordes com tanta precisão, sabia lidar mais com instrumentos do que com gente de pele e osso. Distante, esse moço, distante.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quem nos dera se apenas um grito, como eu achava, fosse o bastante para mobilizar sentimentos, opiniões , ações. Eu, você, o bicho homem...Não sabíamos que o braço materno que dormíamos e que, ao mesmo tempo lutávamos , não estará ali para sempre. Não estava no nosso consciente que tudo é passageiro, mesmo vivendo nesse mundo doido, nem soubemos estabilizar problemas humanos, sociais, muito menos,soubemos erradicar questões individuais que nos impediam de viver e ao mesmo tempo criavam obras literárias, artes plásticas, peças de teatro e danças.
Sábia injustiça do destino. Privar-nos de sabedorias que teremos apenas depois de experiências e perdas. Quando você perde o que chama de excesso, percebe que aquilo não era exagero algum. Aquilo que se esvai então, dá lugar ao vazio. Qualquer relação, sentimento que se perdermos, sentiremos falta mas se essa energia se manter sobre nossos corpos e mentes, acharemos bobagem ligar pra isso, pros outros, pro tudo. Ah. Ingênua desvalorização do ser humano para o tudo, sistemas, relações humanas, humanitárias, mundo.

Mouni Dadoun.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Rodeia-nos com minutos, segundos.O tempo nos engana e se mostra em rugas, cores desbotadas, rastros, idéias enterradas.Aquela carreira que ficou para trás, ou o filho que não veio.Mudanças que nem tardiam foram, pois não aconteceram.Ele é eterno, brilha com o sol e nós somos ingênuos cobais de seus planos.Escravizados, lutamos contra ele, com cremes, sonhos, justificativas e irracionalidade. Desde antigas civilizações ele tenta ser organizado , mas nunca poderá ser diminuído , erradicado, parado.Por mais doloroso que seja, ele é necessário, natural e passa. Passa em cabelos, jornais, ponteiros , filhos e gerações, em um cigarro. Ele aparece no novo que fica velho, no carro trocado, no olhar para trás, na presença familiar, no olhar materno acreditando que poderá ver as crianças crescerem.

Passa no olhar do mais sábio, do mais velho.Tenta-se fugir, eternizá-lo em fotos, documentos, livros,música, poesia, danças de antepassados.O que conseguimos, e quando conseguimos , é guardar um pouquinho da essência do que queremos representar.Não sabemos lidar com o dito tempo; temos medo, receio já que tentamos viver um futuro ou reviver um passado , sendo que deveríamos estar em nosso lugar, no presente , no momento.

Mouni Dadoun.

domingo, 19 de setembro de 2010

O peso do calor da tarde caía sobre seus olhos cansados, caía sobre seu corpo estático. Pensava apenas em fugir dali, mas sem sair, sem se mexer. Não queria sair de seu lugar, queria que as pessoas ficassem longe, se desmaterializassem de sua mente e de seu cotidiano, queria que elas se mexessem. Tinha sede de viver em outras mínguas, às vezes em cidades acordadas, às vezes em ruas adormecidas. Já tinha quase o bastante para poder sorrir aos ventos, ou poder respirar, suspirar como quem cheira qualquer margarida, alecrim. Como alguém que entrasse em uma pequena casa de madeira e escutasse qualquer música que estivesse no compasso de seus pés, de sua dança, de seus humores.

Tocava com suas mãos silenciosas, os frutos do verão, as rosas de primaveras ou a água de chuvas passadas, o orvalho. Seu universo tinha uma textura original, tinha diferentes cores, respirações, aspirações de diversos tipos. Não compreendia seu próprio sol, sua própria dança a qual ainda tinha a esperança de dominar.

Mouni Dadoun.

sábado, 4 de setembro de 2010

Reconforto-me em sonhos perdidos, passados, nostálgicos. Perco-me ,talvez , em meu egoísmo com uma leveza despercebida, descontrolada. Perco-me em homens supérfluos, olhos desgastados e linguagens codificadas, abstratas e difíceis de serem retratadas. Vejo-me em um filme qualquer, em nomes de livros, personagens e vidas. Vejo-me em discussões sem sentido algum e que mesmo assim, tento e continuo defender o meu ideal, o meu pensamento, mesmo que utópico.

Jogo-me em sujas sarjetas e velhas ruas. Tempos depois percebo o que bebi ,o que usei, o que senti. Observo movimentos em uma velocidade lenta, capaz de me mostrar o real em outras linhagens e dimensões. Começo a caminhar então por um estreito enredo, uma dramática ou irônica narrativa, começo a viver.
Não pense que isso seja perder tempo. Esse espaço é necessário, é dado por nós mesmos e deve ser aproveitado como experiência , como aprendizado para formamos ideais, opiniões, para
nos formarmos como seres humanos, ainda que hoje essa espécie esteja em extinção.

Mouni Dadoun.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O que trago no peito é nostálgico, saudável.
Tem compasso, tem calor e aroma.
O que trago no peito são flores de todos os tipos, céus de todas as cores.
O que tenho comigo sempre está banhado de sol, de brilho.
Tem tom de roupa ao sol, de verde claro e vermelho de roseirais.

Trilhas sonoras, em ruas floridas, fonte inesgotável de vida.
Tulipas em asfaltos, escadas de cachoeiras.
Orvalho em folha de manjericão, cor de esmeralda.
Semente caída na terra, jogada ao vento, semeada pelo sol.

Contigo partilho a dor do partir, a dor de ser.
Partilho a dor do saber e me perco em nostalgias negras.
Caio em sonhos clareados por sua ternura e beleza,
Trago-lhe no peito, em som, em luz , em beleza e dor.

Mouni Dadoun.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nem todos os livros da Babilônia destruída fariam do homem, sábio por inteiro. O esclarecimento vital vem do amor consumido, do ódio liberado, do brilho do olho, do prazer da labuta. Vem não só de escritos sagrados, mas vem dos observatórios freqüentados, da experiência em si e das anotações na mente. Na memória emocional ou no traço da vida. Mesmo os que não possuem veia poética ou cultura armazenada, podem esclarecer simples dúvidas dos mais barbudos que vivem em cavernas, solitariamente.

Os boêmios de olhos grandes e escuros, cobertos por sobretudos e enrolados em cachecóis ,perambulam por ruas úmidas e frias , e dão à luz poemas e prosas sedimentados a partir da cana, da fada verde do barulho da brasa que consome o tabaco. Os amaldiçoados como Rimbaud se escondiam em pontes e caminhavam contra os rumores dos dramas de revoluções sociais, de nações que se preocupavam apenas em adquirirem impostos e terras.

Cortiços incendiados davam lugar a enormes prédios que mudavam seu físico a partir de revoluções culturais. Abrigavam o repúdio ao menor, ao subúrbio e financiavam o superficial do lucro. Os poemas e prosas, bêbados e contraditoriamente sóbrios foram deixados para trás pelos ditatoriais governos disfarçados com uma falsa democracia.

Mouni Dadoun.

domingo, 29 de agosto de 2010


Sabe, vesti meu terninho de linho, saí por aí com rosas nos olhos, forças nas mãos e esperanças mundanas. Já tive sonhos imundos, puros e macios como nuvens, doces como pólen. Estranhei-me com diversas amarguras em meu coração, não sendo do meu feitio sentir tal, aí então pensei que as pessoas não mereciam crédito, não mereciam ser ouvidas, reconhecidas por utópicos, poetas loucos, sábios. Em mudanças repentinas, minha opinião discorre sobre os mais pesados governos, idéias, e o brilho de esperança agonizante nos olhos engrandecidos de crianças perdidas em pobreza, lamúria, magreza e fome. E há aqueles que ainda, em pura ignorância, reclamam de pesos, medidas, costuras, comidas, do dia-a-dia.Sendo que ainda , há o ébrio, o febril e o assombrado.

Cada vez mais, estamos acostumados com nossos podres e preguiçosos costumes que acompanham o nosso cotidiano, nosso olhar. Isso é o que nos torna mais hipócritas e torna vergonhosa nossa opinião sobre sistemas sociais, populações e outros hábitos, nos torna mais preconceituosos, mais do que já somos. Estamos mais presos do que nunca em nossas convicções e esquecendo de relações humanas, de prazeres, de leituras de outros seres, de diferentes seres.

Mouni Dadoun.
*Quadro dadaísta: François Picabia

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sou a dança eternizada, os pés doídos e brilhantes.
Palavras escritas em poesias, prosas e notícias.
Posso ser uma letra de Chico, uma composição boêmia.
Sou qualquer grito revoltante, qualquer gargalhada livre.

Sou qualquer terra, qualquer lugar,
qualquer pessoa, qualquer frase.

Qualquer passo leve, ou luz do luar.
Posso ser qualquer momento, qualquer hora.
Posso ser o todo, de todas as formas.
Enceno na vida de palco, na vida real.

Mouni Dadoun

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ontem vi o absurdo bater na porta da cidade.
Vi o chão derretido em sujeira,engolindo árvores,
cuspindo gases e soltando marginais.
Vi a cidade acesa em lamúrias, chamas e lágrimas.

Vi a morte sendo estuprada, e a mãe de braços vazios.
Vi homens com seus podres, e luxuosos cidadãos com seus vícios.
Ontem vi crianças magras caminhando sobre um meio fio podre,
Comendo o invisível com seus grandes olhos, sofrendo em silêncio.

Ontem vi assassinatos cometidos por governantes,
por fome, miséria e doença.Vi a cólera sobre o mundo.
Vi Rimbaud, ainda presente, profetizando e se lamentando por estar certo.
Ontem vi brigas de bichos-homens por restos de comida em lixeiras e sarjetas.

Ontem vi seres afogados no petróleo e o mundo caído nesse futuro prestígio.
Por consequência, vi mortes, que nada tinham a ver com a pretenção e ambição dos grandes.
Vi lágrimas caídas em corpos guerreados, vi o mar mais negro do que nunca .
Vi tudo claramente em telas,mares, olhos, ruas e restos.

Mouni Dadoun.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sevilla

Sevilla tem algo de mágico. Em seu solo, em seu ar. É a mistura mais pura que já vi. De culturas, cores, casas ,flores, personalidades , sabores e sensações. É uma cidade que transpira e exala em suas flores e expressões, o flamenco. Perder-se por suas ruas estreitas, sotaques e aromas é entrar em uma viagem sem volta, é estar em um paraíso. Enormes portas, casas mouras com jardins, flores em janelas decoradas, casas coloridas e antigas,tabernas escondidas e cavernas que abrigam bailaores, artesãos e músicos.A Espanha é mágica , sensual.Mostra isso em suas cidades , estradas e traços. Sevilla foi o lugar que me chamou mais atenção.Espetáculos por toda a parte, bares , cafés, olhos espalhados por todos os lados.Praças... sim as milhões de praças, dentro da magnífica arquitertura de Sevilla , são recheadas de música, sangría e tapas que são os famosos tira-gostos espanhóis.

Não há nenhuma terra, creio eu , mais rica que Sevilla, mais quente que seu povo, seu clima e seus movimentos. Os olhares fortes dessa cidade encantadora guardam séculos de magia e cultura, mesclados com o ardor da arte e com as tradições religiosas de cada um que colocava o pé nesta terra.Ficará marcado para sempre minha ida e estadia por lá, além de estar guardada a minha paixão pela terra, brisa e pelo povo andaluz.

quinta-feira, 8 de julho de 2010


O flamenco é a arte da expressão através da dança, do canto e da música. O nome deriva do árabe jelah mengu, que significa camponês foragido. Essa arte reflete a história dos povos ciganos e é uma mistura de influências espanholas, judaicas e muçulmanas. Surgiu há muito tempo, aos poucos e clandestinamente, por onde passavam os povos perseguidos no sul da Espanha, região de Andaluzia, no tempo da Inquisição.

O flamenco é uma das maiores manifestações da cultura espanhola. Tendo incorporado toda a história dolorosa de seu surgimento, o flamenco é, antes de tudo, expressão. Cada movimento significa um estado de espírito do povo cigano que, apesar da tristeza, também compartilhava momentos de intensa alegria.

Intensidade é a palavra chave do flamenco. Nos sapateados mais ligeiros ou nos taconeos mais pausados, está o compasso do coração do bailarino. Bater os pés é ganhar coragem através da energia e da força da terra. A fluidez dos movimentos de mãos e braços contém a paixão e a alegria que se misturam à melancolia e à tristeza, de acordo com os significados de cada música. As palmas marcam os compassos e chamam a vida para acender a dança. Na postura firme e decidida do corpo, na expressão do olhar, o bailarino flamenco demonstra a vitória dos povos que, por mais que sofressem, conseguiram viver a sua arte e trazê-la aos dias atuais.

Atualmente, o flamenco continua sendo a manifestação da alma da cada pessoa. É colocar para fora os sentimentos, compartilhar as emoções através da música, do canto e da dança. Flamenco é a dança da beleza, da energia e do prazer. Com a dança flamenca, pode-se trabalhar a desinibição e a autoconfiança, além de liberar as tensões do cotidiano. A sua prática também traz benefícios para o corpo, com o fortalecimento dos músculos, a melhora da capacidade aeróbica, da postura, da mobilidade, agilidade e consciência corporal.

Ser flamenco é saber se expressar, é saber manifestar as diversas emoções da vida através da dança.

Texto de Ana Pires – bailarina e professora do Soleá Tablao Flamenco, em Belo Horizonte

Pies.



E esse fardo de emoções que não se cansa de massacrar a mina própria razão?Não há como mais opinar, criticar imparcialmente.Sentimentos. Todos depositados em passos de danças e expressões sanguinárias de uma “Farruca” de Paco de Lúcia ou interpretada por Antônio Gades.Flamenco é mistura de ciganos , árabes,judeus e teve influência de outros povos .É a mescla de culturas, raças e crenças.Com olhos fortes, os que carregam o broto flamenco de Andaluzia no coração sabe do que falo. A paixão flamenca e cigana não precisa correr no sangue. Apenas no coração.

Cada passo, compasso, cada toque no cajón e cada acorde lembram o ardor a dor e o amor, sentidos ao dançar. O sofrimento das mulheres de Toledo e alegria de Sevilla.
Não há leveza não... São pesadas as danças , os palos secos.Por mais que as sevillanas e guajiras sejam alegres ,são de origem flamenca e são enérgicas por si só. Carregam em si a mesma força que os ciganos trazem em seus olhos nômades. Os tablados, guitarras espanholas e figurinos que unidos tornam dos bailarinos, um grande mistério. Misturas de flamenco com tango , dança do ventre e outras... Loucas danças que enriquecem ainda mais o ato de libertar-se.

Libertar-se como as mulheres que começaram a dançar a Farruca, antigamente apenas dançanda por homens. Revirar as mágoas dos que bailavam para suprir alguma perda, sofrimento.Ou comemorar, festejar bailar apenas por bailar. Colocar toda a força da raiva, da felicidade e da angústia em movimentos, sapateados fortes, golpes, “puntas” e movimentos de mãos. Ao término da coreografia, saber que o dever foi cumprido.Para o público e para si mesmo.O dever com a dança, com o flamenco.

Mouni Dadoun.

sábado, 26 de junho de 2010

Não só uma.

Aquilo a que me entrego nasce a partir da dor, suor, ardor, louvor. Do amor ao passo, à letra, ao homem, ao que se chama de “gente”. Do amargo, ácido ou até mesmo, por incrível que pareça, do doce. Da admiração por acordes, notas, cordas, o instrumental. Há aqueles que passam para a palavra escrita, para músicas, artes plásticas, todos os ideais, sonhos, amarguras, ironias, malditas ou benditas sejam essas. Se isso acaba, o corpo não age, a mente não se cabe e a vida se acinzenta, se sufoca. Qualquer coisa, impulso de vida, letra de canção, música ou luar. Algum estímulo, quebra do cotiadiano, ou por contra, a rotina.Aventura. Vício.Qualquer coisa para o vital continuar.

Sonhos perdidos, atingidos. Projetos em crises, absolvições bandidas, amores platônicos, risos e desesperos. Sem isso não há verso, poema, pintura, cultura. Não há língua, mescla de textos ou arte mista. Do branco com preto, do mestiço, do mal-criado.
Diversidades com seus amores mal resolvidos. Daqueles românticos, carnais, espirituais. Espelham-se em tambores, flautas, ritmos, valsas, coreografias.De todos os tipos, cores , jeitos , sabores e poderes de sedução.
Nao se traia, não se canse, nem se maltrate.Desande o quanto quiser, mas não , não pare nunca.

Mouni Dadoun.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A religião do mundo.



Eles vivem por fotos, imagens e retratos, espelhos.
Pintam-se, colorem, preenchem vazios,
causados por dor, ardor e “desvalor”.
Afogam seus demônios em bebidas rústicas

Pedem para ser os primeiros, ou últimos do planeta.
Desse mundo insano que manipula a vida de qualquer um.
Não sabem o quanto de ópio devem usar, nem quantos cigarros fumar.
Sabem apenas que devem usar, abusar.

Devem milhões à milhares; dívidas de atitude.
De dinheiro, de flores.
Não sabem quantos carnavais nem quantos funerais
manifestam-se em seus interiores.

Não sabem o porquê, nem pra quê. Sabem que devem.
Devem pagar, sorrir, fazer e agir.
Essa é a farsa humana de que todos estão vestidos.
Fazem do amargo seu sabor e o escondem com belas palavras.

Mouni Dadoun.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Copa , que copa?

Em teu seio, ó liberdade.


Semáforos não funcionarão mais, o trânsito que já era caótico, muito menos. O Brasil de câmera lenta passará a “stop”. As mulheres deixarão seus namorados, maridos ou afins ( nunca se sabe ) já que serão traídas por ela!A bendita Copa. As crianças que nascerem durante o período da aprovação da pátria, terão seu armário em tons de verde e amarelo. Até a famosa novela das nove , passada no nosso canal globalizado , será interrompida. Sim meus caros o inferno vestirá seu uniforme e entrará em campo.

O mundo que já estava pra lá de Marraquesh , honras a Caetano , irá para a África do Sul. O Brasil parará o PAC e concentrará suas forças para nosso querido time anão. Copa, copas? Venhamos e convenhamos. Se o país já não andava, agora vai empacar. Podem chamar juazeiros, nordestinos, Senhor do Bonfim. Fantástico. Ah o Fantástico. Apresentará as garotas da copa, em sua maioria loiras que fazem embaixadinhas, se é que me entendem, depois publicará alguma Maria da vida de algum buraco do Pantanal que sabe da copa, mas sequer possui luz em casa.

Nada funcionará, que não seja em prol dos nossos queridinhos bonecos em forma de jogadores, camisas de dez à mil reais, bandeirinhas das verdes matas e do brilhante sol à venda em feiras e espaços glamurosos de comércio. Não é preciso profetizar para ver as vitrines lotadas e o povo à procura de bumbum e cerveja gelada. A população usará toda sua pátria resguardada há anos para cantar o hino e emanar energias para o Brasil vencer. Sim em alguma coisa ele tem que vencer . Então como o futebol é uma das esperanças para os Josués, já que não conheceram o caminho letrado, que se faça a profecia.

Sim.Plantões da Globo ocorrerão a todo momento para mostras contusões, confusões e arbitrariedades. E nossas Marias estão lá perdendo filhos inocentes com PMs, lavando roupas a quilo e derramando lágrimas sobre pratos vazios, sobre as bolsas famílias esburacadas. Todos se reunindo ao ar livre e em ritmo de copa, para fazer as famosas trocas de figurinha. Tantos empregos temporários, tantos policiais temporários, pátria temporária. O país fica digno de ter uma nacionalidade quando percebe que a libertadores, o campeonato brasileiro e como se não bastasse o campeonato sul americano não são mais suficientes para suprir seus desejos mais que sexuais da bola.


Onde estão as músicas ricas e indecifráveis de tempos atrás? A cultura massificou-se. Onde estão os livros realistas e modernistas, de cunho social? Tudo ficou de uma cor só. Uniformizado. Remete-se a algo?
Quem sabe, o beijo no símbolo brasileiro na camisa suada, crianças já vestidas à caráter e notícias e mais notícias da copa, nos traga um pouco de conscientização?. Por que essa pátria não é usada de oura forma? Dunga além de se sentir mal humorado, sente-se mais no dever de não decepcionar o Brasil que o próprio governo sente. Se sentir. Não deixemos esse peso todo para o pequeno. E não sejamos xenófobos também. Temos é mais que aprender com os concorrentes, não só na FIFA, mas no PIB, IDH e outras siglas formais, que só burocratizam o relacionamento do brasileiro com o Brasil, cada vez mais, infelizmente banalizado.

Mouni Dadoun.

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Caderninhos, panfletos, folhetos. Trazem como conteúdo poesia, poemas versos e curtas prosas. Muitos dos que criam estas obras são autores anônimos, desconhecidos ou que desejam reconhecimento e valorização de seu trabalho. Caminham por bares, ruas, restaurantes, sinais. Escritores que procuram apenas alguém que sinta algo ao ler um verso feito, um soneto.

Os chamados poetas marginais ,desejam difundir seus trabalhos e conquistar leitores, conseguir, seja um elogio, uma contribuição financeira, um lanche. Muitos publicam seus escritos e distribuem estes por diversos estabelecimentos. Há todo tipo de público, do que amassa o papel como umas embalagens de bala, dos que lêem e agradecem, pela mostra, devolvendo-a e os que as adquirem pelo trabalho valorizando-o e até contribuindo com qualquer valor, mesmo que simbólico.

As poesias marginais possuem uma forma de divulgação livre, mas ao mesmo tempo limitada pelo fato das publicações serem feitas pelos próprios poetas. São de temas livres e fogem do que se é chamado de “sistema literário”. Abrangem temas que vão do cotidiano, que enaltecem as emoções do autor com uma linguagem simples e estética variável ao poema de cunho sóciopolítico e questões mais engajadas.O que é lembrado nos anos 70, época em que o Brasil vivia um sistema político ditatorial, e época em que acontecia o afloramento da “Poesia Marginal”.Esta deu início ao tropicalismo , à movimentos de libertação política e social e infelizmente, formalizou a censura.

Hoje essa forma de expressão continua sendo divulgada através do boca a boca, da distribuição de trabalhos por ruas, praças e bares; aos boêmios, mulheres, homens. A todo tipo de público. É uma forma de democratização literária, dando espaço a vários e novos artistas sem o monopólio e a padronização de escritores e as barreiras do mercado. Essa variação enriquece o leitor culturalmente além de abrir caminhos para a homogeneização cultural.

Ana Cristina César (1952-1983), carioca foi um ícone da Poesia Marginal. Escritora tradutora, a poetisa foi fonte de inspiração para novos poetas. Viajando pelo mundo ela publicou suas poesias de forma independente.

Voando com o pássaro ( Ana Cristina César)

Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor
[ (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os
[ cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.

Mouni Dadoun

Quero ficar na minha, no meu, no eu.
Não sóbria, nem racional.
Entrar em transe, soberana em meu inconsciente.
Degustar sabores da mente.

Após o banho de ideologia, secar ao sol.
E perceber que era apenas uma ilusão,
Alucinação ou coisa e tal
Ir aos céus, visitar deuses.

Apreciar a palavra escrita.
Poetizada e colorida.
Voltar ao normal, levar o choque.
Cinco minutos pra pensar.

Auto crítica desconhecida
Cavar caminhos em mente
Tentar achar o real do imaginário
E voltar aos labirintos do consciente.
.
Mouni Dadoun.

terça-feira, 1 de junho de 2010


Em honra aos mortos e prisioneiros da ilha da ilusão, perco-me também agindo e voando por mundos e fundos em um naufrágio ocorrido. Os que preferem a liberdade da ilha do real, deixo-lhes a escolha e, inchados de sabedoria optarão pela mais nua e estúpida verdade. Ou aqueles que preferem viver caindo de sonho em sonho sem linhas, métrica, dimensão ou padrão, desses que a realidade impõe.

Os livres da ilha do real são os economistas brancos que de tão pálidos quanto a crises pedem tranqüilidade a sociedade ,são políticos se engalfinhando por poder, são os guias religiosos que optam pelo brutal e ridículo preceito de salvação. Os ilhados prisioneiros da ilusão são os inventores da água nova ,brotando. São mulheres que insistem em criar seus filhos, são crianças que insistem em sorrir.Aqueles que possuem a fineza e firmeza de desinventar a tristeza e plantar a flor ,que ainda não foi copiada, no asfalto.

Aqueles que ainda tentam plantar a música nas terras inférteis, marcar a letra no papel e estancar o sangue da moça ferida, ganham a cidadania dos iludidos. Os que adquirem amor próprio suficiente para se aprisionar no mundo da ilusão para não serem dominados e pseudo livres no realismo, em mínimo detalhes. Apegam-se a plantas e animais .Não acreditam mais nas pessoas , muito menos nas crianças com seus comentários, ao mesmo tempo , maldosos e inocentes.O que parece é isso mesmo.Banalizaram o ser – humano e o amor próprio não apenas do ser , mas da espécie humana.

Mouni Dadoun.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um sorriso negro.

Soube-se de cada criança abandonada, doente, ferida no Haiti.Cada família separada, cada casa destruída.Sentiu-se as lágrimas caídas sobre os escombros que escondiam cadáveres e corpos que ainda , surpreendentemente, guardavam a vida neles.
O forte povo haitiano, pouca reação demonstrou.De tanta bravura e sofrimento, de tanto desastre por terra, por nação e por desenvolvimento, o povo se acomodou.Não sabiam mais o que fazer.Pais que não sabiam se veriam seus filhos, se teriam suas casas de volta. Cada um por si só, lutavam por uma migalha de alimento.Por uma gota de água.Ali.Onde a racionalidade, não era mais presente.Onde pessoas se transformavam em animais selvagens, loucos.

Ali.Onde uma gaze era ter tudo.Onde uma barraca com pedaços de pau, era um palácio.O melhor hospital.Onde a ajuda internacional foi elevada ao cubo pela mídia e onde marcado pela dor e força que coexistiram.A miséria, que se aproveitou de um desabafo da natureza para oficializar seu reinado.Deixando olhos aflitos de fome, bocas quase mortas de sede e um lugar irreconhecível.Deixando um lugar inabitável.E quando o ser humano, em sua limitação, pensa que nunca conseguiria sobreviver àquilo, o povo haitiano dá-lhes um show.Um exemplo.Uma mostra do instinto de sobrevivência.

Os meros então, rodeados de conforto e aqueles que são cegos pela
Superficialidade e são excluídos da cena de solidariedade. Excetuando-se claro os nobres dotados de tal virtude.As meras nações tão preocupadas em sua política neo-liberal, que não conseguem resolver nem seu problemas sociais internos, são cobradas pelo complexo mundo de demonstrar um sentimento tão cordial, que é a diplomacia?Ora, seria muita pretensão.Surpreendentemente, os norte-americanos pareceram estar complacentes á essa política, mas que não se deixe de citar seu status e sua repercussão na mídia que estava, mesmo com a censura, podre no oriente.Por que não tentar no próprio continente?Por quê não reviver o American Way Of Life? Não negando sua importância para a recuperação estrutural e social do país.

Sabe-se apenas que muitas vidas foram perdidas, destruídas e os que sobreviveram estão em uma situação precária.Fotos, depoimentos, matérias, artigos, documentários.Nada.Nada é tão chocante quanto o momento.Não se pôde e creio que seja difícil, expor tamanha lesão e tamanha dor no espírito desses povo que foi uma das únicas nações a ter como um proclamador da independência, um escravo.Espero então que esse país continue, com sua forte cultura, a superar seus problemas internos, de violência e da política.Que o Haiti volte a sorrir.


Mouni Dadoun.